Pesquisar este blog

2 de agosto de 2013

Somente diplomados em História poderão publicar trabalhos sobre qualquer tema histórico, segundo a ANPUH

A Associação Nacional de História (ANPUH), que defende o Projeto de Lei 4699/2012 de regulamentação do historiador, costuma afirmar que essa proposta não proíbe ninguém de estudar, pesquisar, ensinar ou publicar trabalhos sobre História. Mas não é bem assim. Aqui está a prova.


Vejam que interessante: o Projeto de Lei 4699/2012 (antigo PLS 368/2009) já está sendo utilizado, antes de ser aprovado, para RESTRINGIR a possibilidade de publicação de trabalhos na Revista Paraibana de História, que é mantida pela Seção Regional da Paraíba da ANPUH: 




A Política Editorial dessa revista indica que seu objetivo geral é "Promover a divulgação de artigos, resenhas, entrevistas e ações pedagógicas de autoria de historiadores [1] ...". 

Esta parece uma descrição inocente e não restritiva, mas é necessário ir até o final da página para ver o que a Revista Paraibana de História compreende como "historiadores". 



Na parte de baixo da página que contém a Política Editorial da Revista Paraibana de História, fica claro quem pode e quem não pode publicar trabalhos nessa revista: 

"[1] A definição de historiador utilizada baseia-se nos artigos 3º e 4º do Projeto de Lei N.º 368/2009 (ainda não aprovado), que busca regulamentar a profissão de historiador... ". E esse projeto é claro, pois RESTRINGE as atividades de historiador aos portadores de diploma de História (graduação, mestrado ou doutorado). 

Ou seja: a Revista Paraibana de História, que é mantida pela Seção Regional da Paraíba da Associação Nacional de História (ANPUH) só aceita trabalhos de autores que sejam diplomados em História. 

Vemos que antes da aprovação do Projeto de Lei, ele já está sendo utilizado para restringir até a publicação de trabalhos em uma revista da ANPUH às pessoas que tenham diploma em História. Esta é uma pequena amostra daquilo que podemos esperar da ANPUH depois da aprovação do Projeto de Lei 4699/2012. 


Vejam só uma outra coisa também interessante: depois que divulguei esta informação, resolveram mudar a página da Política Editorial da revista. Mas não faz mal: a página antiga está registrada.

Veja a página original, antes de sofrer um processo de maquilagem:
https://dl.dropboxusercontent.com/u/4072208/Revista-Paraibana-Historia-politica-editorial.pdf

Página nova, "corrigida", tirando as normas antigas:
http://revistapbhistoria.com/?page_id=80

Qual é a verdadeira face da ANPUH?


23 comentários:

  1. Está aí um exemplo incontestável de como o texto da lei será utilizado em favor da "reserva de mercado"!

    ResponderExcluir
  2. Concordo totalmente! Se esse projeto de lei for aprovado, não tenho a menor dúvida de que será efetivamente utilizado pela ANPUH e por todos os "historiadores de carteirinha" (portadores de algum diploma de História) para impedir outras pessoas de desenvolverem atividades sobre qualquer tema histórico.

    ResponderExcluir
  3. I-S-O-L-A-M-E-N-T-O! Retrocesso! Divulgarei as informações.

    ResponderExcluir
  4. É lamentável, realmente, determinar quem pode ou não publicar trabalhos em uma revista a partir de seu diploma, e não a partir de sua competência.

    ResponderExcluir
  5. E os estudantes de história, não iriam poder publicar nada em lugar algum? Pois já são poucos os espaços de divulgação de pesquisa, e ainda por cima restringi-los ainda mais?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Realmente os estudantes de história deveriam ter mais espaço!

      Excluir
    2. O que eu notifiquei aqui foi que uma revista da ANPUH resolveu proibir pessoas sem diploma em História de publicar nessa revista. Normalmente, em qualquer área, os estudantes de graduação só publicam trabalhos se tiverem apoio (co-autoria) de seus professores. Esse não me parece ser um problema grave. O ponto realmente grave é que historiadores da arte, da ciência, da religião e de outras áreas do conhecimento ficam proibidos de publicar nessa revista, independentemente de sua competência.

      Excluir
    3. Wellington, para isso existem as revistas discentes, e as há das boas no Brasil: Cantareira (UFF), Temporalidades (UFMG - pós), Em Tempo de Histórias (UnB - pós), Aedos (UFRGS), Revista de História (UFBA), Mosaico (CPDOC-FGV), História.com (UFRB - graduação), Vernáculo (UFPR), Noctua (UnB - graduação), História em Reflexão (UFGD - pós).
      É só fazer uma busca simples na web que elas aparecem.
      Há até muito espaço para estudantes de graduação publicarem...
      Abçs.

      Excluir
  6. Estou de acordo com a revista paraibana de história, porque os historiadores são formados para trabalhar com a escrita historiográfica!
    Queria sabe se um historiador poderia substituir um médico? ou um engenheiro? Sendo assim, porque que outros profissionais podem substituir os historiadores nos trabalhos historiográficos?

    ResponderExcluir
  7. Caro Guerhansberger (não sei o seu nome). Se você ler a parte final desta página do blog, vai notar agora uma informação adicional. A ANPUH removeu do site da revista a norma antiga de publicação. Ou seja: a ANPUH percebeu que a restrição de publicação na Revista Paraibana de História apenas a pessoas com diploma em História era indefensável. Mas você pode se comunicar com a Diretoria da ANPUH e pedir que coloquem de novo aquela política de publicação, apresentando seus argumentos.

    Não se pode imaginar que a simples posse de um diploma de licenciatura ou bacharelado em História torna a pessoa um maravilhoso pesquisador; nem imaginar que as pessoas que não possuem esses diplomas são incompetentes. Os currículos dos cursos de história não fornecem uma base aos seus estudantes sobre história da filosofia, da arte, da educação, da física, da biologia, da computação, da medicina, da literatura, da música, etc. Então, por que motivo esse diploma de história daria a essa pessoa o direito exclusivo de desenvolver trabalhos sobre qualquer tema histórico?

    ResponderExcluir
  8. Acho esta discussão inócua. Faz tempo que a ANPUH não representa todos os historiadores, sejam eles diletantes ou de profissão. Me desfiliei ano passado e não me arrependo de tê-lo feito, pois há muito já não me enxergava nas discussões e bandeiras levantadas pela associação, especialmente na Paraíba.
    Ao criar a revista eletrônica, a ANPUH-PB agregou ao periódico um manifesto contra o "produtivismo acadêmico" que circulou na web no ano passado... Se é preciso combater as políticas "produtivistas" de Capes, CNPq e outras agências de fomento, pra que se criar uma revista com ISSN (que é um indexador oficial, que dá validade à publicação) e normas excludentes para receber trabalhos para o periódico?
    Conhecimento científico se faz sim com publicação constante de resultados de pesquisas, isso é o que faz nosso meio andar...
    Usar artigos de um projeto que ainda não se tornou lei como parâmetro para receber material para publicação me parece, no mínimo, risível.
    Só quem já cuidou ou cuida de um periódico científico sabe do trabalho que dá mantê-lo circulando, com um nível de qualidade que se aprimore constantemente e dê credibilidade àquilo que se publica.
    Bem, ao vencedor, as batatas...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Carla Mary S. Oliveira, obrigado por seu depoimento e opinião. De fato, sabemos que muitos historiadores (no sentido de pessoas diplomadas em história e que se dedicam a essa área) não estão de acordo com a posição da ANPUH. É lamentável esse episódio da Revista Paraibana de História, que mostra a evidente confusão entre qualidade e posse de um diploma.

      Excluir
  9. vixe, roberto, haja má fé da tal revista!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cara Denise Bottmann, obrigado por seu comentário! Pois é, fico triste em perceber esse péssimo precedente exatamente aqui na Paraíba, onde me refugiei depois de me aposentar da Unicamp!... Compartilho seu "Vixe!".

      Excluir
  10. e parabéns por encarar essa briga. como se não bastasse a terrível ameaça a qualquer capacidade reflexiva, imagino a trabalheira, o tempo que tudo isso toma, tirado a seu tempo útil. grande abnegação e altruísmo de sua parte, em prol de todos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pelas palavras gentis, Denise. Estamos na luta, com outros(as) companheiros(as) de fibra!

      Excluir
  11. Prezados (as)

    Existem muitas formas de criar visibilidade. O Roberto Martins escolheu a mais prática, ou seja, acusar um grupo de pessoas de defender sua profissão.

    Conheço um caso de um Senhor de "cultura letrada", duas Graduações, boa oratória e de uma retórica insuperável. O cidadão chegou, inclusive, a trabalhar como técnico de nível superior em um Tribunal. Pois bem: esta pessoas resolveu instalar escritório de Advocacia. Do ponto de vista de Roberto Martins um ato legítimo e legal. Errado! Este Senhor teve que gastar muito dinheiro com Advogados de carteirinha para não passar alguns anos na cadeia. É que a OAB e o Judiciário possuem muito mais poder do que a ANPUH.

    Glaudionor Barbosa

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezado Glaudionor,
      Você pressupõe que eu quero obter visibilidade, e que procurei um modo fácil de obter isso. Você está enganado na sua tentativa de adivinhar minha motivação. Não preciso de visibilidade, sou uma pessoa bem conhecida no Brasil e no exterior, na minha área de atuação. Não estou me dando ao trabalho de construir este blog e fazer muitas outras coisas para ficar conhecido e visível. Estou fazendo esse trabalho para participar de uma luta que considero justa.
      Quanto ao seu segundo parágrafo, trata-se de outro equívoco. Eu não estou defendendo, em nenhum lugar, que ninguém precisa obter uma formação adequada para desempenhar certas funções. Você está inventando livremente interpretações que não têm relação com o que eu escrevi. Nota-se que você não segue o princípio básico de qualquer bom pesquisador: ler com atenção, e não ficar inventando coisas sem fundamentação.

      Excluir
  12. Atenção: Não serão aceitas postagens de comentários grosseiros. Acabei de excluir um comentário desse tipo.

    ResponderExcluir
  13. Tal projeto de lei (PL 4699/2012) da forma como está não pode ser aprovado. Ora a posse de um diploma não garante por si só o domínio de conhecimentos de áreas específicas como História da Ciência, da Arte, da Biologia, da Medicina, da Filosofia, etc...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A grande mobilização que está ocorrendo contra o Projeto de Lei já sensibilizou os Deputados Federais. Temos confiança de que o projeto de lei não será aprovado, com sua redação atual.

      Excluir
  14. O meio acadêmico é isento? Quando iniciei minha pesquisa diletante acerca da origem do cristianismo, eu já tinha uma ideia formada que pode parecer esdrúxula: nada de Bíblia, teologia e história das religiões. Todos os que haviam explorado esse caminho haviam chegado à conclusão alguma. Contidos num cercadinho intelectual, no máximo, sabiam que o que se pensava saber não era verdade. É isso o que a nossa cultura espera de nós, pois não tolera indiscrições. Como o mundo não havia parado para que o Novo Testamento fosse escrito, o que esse mesmo mundo poderia me contar a respeito dessa curiosidade histórica? Afinal, o que acontecia nos quatro primeiros séculos no mundo greco-romano, entre gregos, romanos e judeus? Ao comentar o livro “Jesus existiu ou não?”, de Bart D. Ehrman, exponho algumas das conclusões as quais cheguei e as quais o meio acadêmico de forma protecionista insiste ignorar.

    http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/paguei-pra-ver

    ResponderExcluir
  15. O meio acadêmico é isento? Quando iniciei minha pesquisa diletante acerca da origem do cristianismo, eu já tinha uma ideia formada que pode parecer esdrúxula: nada de Bíblia, teologia e história das religiões. Todos os que haviam explorado esse caminho haviam chegado à conclusão alguma. Contidos num cercadinho intelectual, no máximo, sabiam que o que se pensava saber não era verdade. É isso o que a nossa cultura espera de nós, pois não tolera indiscrições. Como o mundo não havia parado para que o Novo Testamento fosse escrito, o que esse mesmo mundo poderia me contar a respeito dessa curiosidade histórica? Afinal, o que acontecia nos quatro primeiros séculos no mundo greco-romano, entre gregos, romanos e judeus? Ao comentar o livro “Jesus existiu ou não?”, de Bart D. Ehrman, exponho algumas das conclusões as quais cheguei e as quais o meio acadêmico de forma protecionista insiste ignorar.

    http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/paguei-pra-ver

    ResponderExcluir